Ele
Colecionador > Parte 4
Sergio Valério
Ele não tem dono e muito menos
um nome. Ele sobrevive pelas ruas da cidade revirando latas de lixo e comendo
os restos que encontra.
Para ele, uma sombra
debaixo de uma árvore ou debaixo de um banco, vale ouro.
Ele ruma sem destino,
cruzando ruas entre carros e caminhões, bebendo a água que vem da chuva ou das
mangueiras que lavam as calçadas.
Ele vive só e de vez em
quando, observando outro cachorro que está do lado de dentro de uma casa não
consegue entender porque aquele o portão os separa. Ele gostaria de ir até o
outro cão e brincar, o outro animal late desesperadamente ao lhe ver talvez
querendo a mesma coisa, mas é preciso seguir em frente.
Às vezes, suas patas o
levam a estradas que parecem não ter fim, mas mesmo assim ele insiste em
seguir, sabe-se lá para onde e sabe-se lá como.
Em algum momento de sua
vida, talvez alguém o recolha, lhe dê carinho, ração e amor ou talvez jamais
isso aconteça.
Em algum momento de
seus caminhos, talvez encontre uma companheira que o atraia e a partir daquele
encontro poderão nascer outros que da mesma maneira que ele, irão vagar sem
destino pelas cidades do mundo.
Em algum momento,
talvez ele morra debaixo dos pneus de um caminhão ou ainda do veneno deixado
por alguém descuidado ou sem coração.
Em algum momento,
talvez alguém se preocupe com a sua existência e a existência de outros tantos
como ele, e tome alguma providência efetiva para que isso não mais aconteça.
Talvez isso também jamais aconteça
e todos nós continuemos a ver muitos outros como ele, se alimentando em sacos
de lixo, sem dono e sem nome.